A Ubisoft acaba de cruzar uma linha que muitos consideravam intransponível. A empresa atualizou seu Acordo de Licença de Usuário Final (EULA) com uma cláusula que obriga jogadores a “destruir todas as cópias” de um jogo quando a empresa decide tirar o suporte. É o tipo de movimento corporativo que faz você questionar se ainda vivemos em um mundo onde comprar algo significa possuí-lo.
A Cláusula da Discórdia
O novo EULA da Ubisoft é cristalino em sua arrogância: se a empresa ou seus licenciadores terminarem o acesso a um jogo, o usuário deve “imediatamente desinstalar o produto e destruir todas as cópias do produto”. Não é uma sugestão. É uma ordem.
Mais perturbador ainda é a cláusula que concede à Ubisoft o direito de terminar o acesso “a qualquer momento, por qualquer motivo”. Teoricamente, isso significa que a empresa poderia lançar um jogo na segunda-feira e revogá-lo na terça, deixando compradores no prejuízo.
O Timing Não Poderia Ser Pior
Esta atualização chega em um momento particularmente sensível. O movimento Stop Killing Games ultrapassou 1,2 milhão de assinaturas, justamente protestando contra práticas como essa. A campanha ganhou força após a própria Ubisoft deletar The Crew, tornando o jogo injogável mesmo para quem já possuía.
É como se a Ubisoft tivesse olhado para a revolta dos jogadores e pensado: “Sabe o que isso precisa? Mais combustível para o fogo.”
A Ilusão da Propriedade Digital
Por décadas, compramos jogos com a expectativa de que eles seriam nossos. Guardávamos cartuchos, CDs, DVDs como tesouros. A era digital prometeu conveniência, mas nunca mencionou que “comprar” se tornaria sinônimo de “alugar indefinidamente”.
A Ubisoft não inventou esse problema, mas está levando-o ao extremo. Outras empresas pelo menos fingem que você possui algo. A Ubisoft está sendo brutalmente honesta: você não possui nada, e eles podem tirar tudo quando quiserem.
O Absurdo das Cópias Físicas
A parte mais surreal da nova EULA é que ela teoricamente se aplica até mesmo a cópias físicas. Imagine comprar um disco de um jogo Ubisoft e depois ser legalmente obrigado a quebrá-lo porque a empresa decidiu encerrar o suporte online.
É praticamente impossível de fiscalizar, mas o fato de estar escrito no contrato mostra o nível de controle que a empresa quer exercer sobre produtos que você supostamente “comprou”.
A Resposta da Comunidade
A reação foi imediata e furiosa. Jogadores estão classificando a atualização como “anti-consumidor no seu pior” e “um ataque direto aos direitos dos jogadores”. Alguns estão pedindo boicotes, outros estão simplesmente evitando futuros lançamentos da empresa.
O movimento Stop Killing Games viu suas fileiras incharem ainda mais. Nada recruta ativistas como corporações sendo descaradamente abusivas.
O Contexto Corporativo
Vale lembrar que isso acontece enquanto a Ubisoft enfrenta outros problemas. Três ex-executivos foram recentemente condenados em conexão com investigações de má conduta interna. A empresa não está exatamente em uma posição de força moral para fazer exigências aos consumidores.
Mas talvez seja exatamente por isso que estão fazendo. Empresas em crise frequentemente dobram a aposta em práticas questionáveis, esperando que a controvérsia passe despercebida em meio ao caos.
A Precedência Perigosa
O verdadeiro perigo não é apenas a Ubisoft. É o precedente que isso estabelece. Se uma grande empresa pode forçar a destruição de produtos pagos sem consequências significativas, outras seguirão o exemplo.
Imagine um futuro onde toda compra digital vem com a cláusula “pode ser revogada a qualquer momento”. Não é ficção científica – é o que a Ubisoft está testando agora.
A Ironia da “Proteção Legal”
A Ubisoft provavelmente justificará isso como “proteção legal necessária” ou “alinhamento com práticas da indústria”. Mas vamos ser claros: isso não protege ninguém além da própria Ubisoft. É uma blindagem legal para práticas anti-consumidor.
A empresa quer ter o direito de vender produtos e depois forçar sua destruição. É como uma loja que vende carros mas mantém o direito de entrar na sua garagem e levá-los de volta quando quiser.
O Futuro da Propriedade Digital
Esta atualização da EULA é um teste. A Ubisoft está medindo até onde pode empurrar os limites antes de enfrentar resistência real. Se os jogadores aceitarem isso passivamente, outras empresas seguirão o exemplo.
A questão não é se você concorda com a Ubisoft. A questão é se você quer viver em um mundo onde “comprar” um produto digital significa aceitar que ele pode ser confiscado e destruído por capricho corporativo.
O movimento Stop Killing Games existe exatamente para combater isso. Cada assinatura é um voto contra a normalização do abuso corporativo. Porque se não lutarmos agora, em breve “destrua seus jogos” será apenas mais uma cláusula padrão que todos aceitamos sem questionar.