A inclusão de Cyberpunk 2077 no catálogo do PlayStation Plus em julho de 2025 não é um simples acaso. É o ponto final num ciclo perverso de cinco anos que transformou a CD Projekt Red de estúdio rebelde em máquina corporativa. Para novos assinantes, Night City parece finalmente redimida. Para quem viveu o desastre de 2020, é a prova de que trair jogadores ainda compensa — desde que você tenha US$ 120 milhões para consertar o estrago depois.
A Hipocrisia Sistêmica: Quando o “Pró-Gamer” Virou Lenda
A CD Projekt Red construiu seu mito na luta contra práticas tóxicas. Nos anos 90, enfrentou a pirataria na Polônia sem DRM, oferecendo jogos localizados com manuais premium. Criou a GOG.com em 2008 como um santuário 100% DRM-free, onde jogadores eram verdadeiros donos de suas compras. Em 2015, The Witcher 3 coroou essa era com 16 DLCs gratuitos e expansões que viraram referência de valor.
Mas o câncer corporativo já se espalhava. Em 2019, a CDPR prometeu abolir o crunch — apenas um ano antes de impor semanas de 100h extras em Cyberpunk 2077. “Não é tão ruim”, disse um executivo, ecoando exatamente o que a empresa jurara combater.
Cyberpunk 2077: A Fraude que Escancarou a Metamorfose
O lançamento em dezembro de 2020 foi um caso pedagógico de cinismo. Enquanto versões de PC recebiam análises brilhantes, as cópias para PS4/Xbox One foram deliberadamente escondidas. Quem comprou nessas plataformas encontrou um jogo quebrado: texturas que não carregavam, crashes constantes e uma taxa de quadros de 15 FPS.
As promessas de marketing? Puro vaporware.
- O “sistema policial dinâmico” resumia-se a inimigos spawnando magicamente.
- Os “lifepaths impactantes” duravam 30 minutos.
- A “AI revolucionária” exibia NPCs com rotinas patéticas.
A resposta da Sony foi histórica: remover o jogo da PlayStation Store e oferecer reembolsos em massa — um recado brutal à indústria.
PS Plus 2025: A Redenção como Produto
O retorno ao catálogo em 2025 é uma jogada calculada até o osso. Enquanto novos jogadores acessam uma versão polida pela Atualização 2.0, os compradores originais de PS4 foram abandonados na DLC Phantom Liberty. A estratégia é clara:
- Reescrever a narrativa (“Vejam como melhorou!”).
- Monetizar o remorso (descontos agressivos na DLC para assinantes).
- Preparar o terreno para a Ultimate Edition no Nintendo Switch 2.
O sucesso é inegável: 25 milhões de cópias vendidas do jogo quebrado, 10 milhões da DLC “redentora”. Mas qual o preço? A CDPR enterrou sua alma.
O Cadáver Ideológico: CDPR 2025
A empresa que um dia desafiou gigantes agora reproduz seus piores vícios:
- Abandonou o motor REDengine pelo Unreal Engine 5, padronizando sua produção.
- Demitiu 9% do staff para “otimizar custos”.
- Multiplicou projetos AAA (The Witcher 4, Cyberpunk 2, novo IP) num modelo Ubisoft-style.
O discurso “pró-gamer” morreu. Restou uma máquina que aprendeu a lição errada: “Lançar quebrado dá lucro, desde que você compre tempo para consertar depois”.