Existe uma ironia cruel quando uma empresa que lucra bilhões com jogos sobre guerra e conflito decide declarar guerra contra seus próprios funcionários. A Ubisoft anunciou a demissão de 19 funcionários da Red Storm Entertainment, estúdio histórico responsável por clássicos da franquia Tom Clancy, como parte de uma “reestruturação global” que promete cortar US$ 110 milhões em custos até 2027.
O Estúdio que Construiu Lendas
A Red Storm Entertainment não é qualquer estúdio. Fundada em 1996 com participação do próprio escritor Tom Clancy, a empresa foi responsável por títulos que definiram o gênero tático: Ghost Recon, Rainbow Six Siege, The Division e o recente XDefiant. São jogos que geraram bilhões em receita para a Ubisoft ao longo de quase três décadas.
Agora, 19 profissionais que dedicaram anos de suas vidas criando essas experiências são descartados como “custos desnecessários”. Entre os demitidos estão desenvolvedores que trabalhavam diretamente no motor gráfico Snowdrop e no suporte contínuo de Rainbow Six Siege. A diretora Elizabeth Loverso justificou os cortes como necessários para “garantir a resiliência da equipe” – uma frase que deveria ganhar prêmio de eufemismo corporativo do ano.
O Padrão da Destruição
Esta não é a primeira vez que a Ubisoft demonstra seu apreço pelos funcionários. A empresa já havia:
- Fechado os estúdios de Leamington e San Francisco
- Reduzido a equipe de Osaka após cancelar XDefiant
- Cancelado diversos projetos da Red Storm, causando demissões anteriores
O mais revoltante é a promessa de “apoiar os profissionais afetados com pacotes de indenização e benefícios de saúde estendidos”. É como dar um band-aid para alguém que você acabou de esfaquear.
A Hipocrisia dos “Objetivos Estratégicos”
A Ubisoft justifica as demissões alegando alinhamento com “objetivos estratégicos para os próximos anos”. Que objetivos são esses? Continuar removendo jogos das bibliotecas digitais dos usuários? Manter o movimento Stop Killing Games ativo com mais de 1 milhão de assinaturas?
Enquanto isso, a empresa se prepara para lançar Rainbow Six Mobile na América Latina, expandindo uma franquia construída pelos mesmos profissionais que acabou de demitir. A ironia é tão espessa que poderia ser cortada com uma faca.
O Custo Humano da “Eficiência”
Por trás de cada número dessas demissões há uma história humana. São programadores que passaram noites em claro balanceando armas no Rainbow Six, artistas que criaram os ambientes icônicos de Ghost Recon, designers que inovaram em mecânicas táticas.
Esses profissionais não são “custos” – são os verdadeiros criadores da magia que fez a Ubisoft lucrar bilhões. Mas na matemática corporativa francesa, talento humano é descartável quando os acionistas exigem números maiores.
Um Futuro Sombrio
A Red Storm continuará funcionando, mas com uma equipe reduzida e moral destroçada. Como criar arte quando você sabe que pode ser o próximo na lista de cortes? Como inovar quando a empresa trata criatividade como linha de custo?
Para nós, gamers que crescemos jogando os clássicos da Red Storm, resta a amarga constatação: a indústria que amamos está sendo sistematicamente destruída por executivos que veem jogos apenas como produtos financeiros. A esperança, para este velho gamer, é que os talentos demitidos encontrem estúdios que valorizem sua paixão mais do que planilhas de Excel.
