Quando um movimento de preservação de jogos atinge 1 milhão de assinaturas, você esperaria que a indústria parasse para ouvir. Em vez disso, a Video Games Europe – o maior lobby de games da União Europeia – decidiu que era hora de mostrar suas verdadeiras cores. Sua resposta ao movimento Stop Killing Games não foi diplomática, não foi construtiva. Foi um ataque direto disfarçado de “preocupação com custos de desenvolvimento”.
O Lobby Que Não Se Esconde
A Video Games Europe não é um grupo qualquer. É uma máquina de lobby composta por Ubisoft, Warner Bros. Games, Activision, EA, Microsoft, Square Enix e outras gigantes que, coincidentemente, são as mesmas empresas que mais matam jogos online sem oferecer alternativas.
Sua declaração oficial começa com o clássico “apreciamos a paixão da nossa comunidade”, mas rapidamente descarta qualquer pretensão de diplomacia. Segundo eles, se o Stop Killing Games se tornasse lei, o desenvolvimento de jogos se tornaria “proibitivamente caro”.
Tradução: preservar jogos para as futuras gerações custaria dinheiro, e isso é inaceitável.
A Lógica Torta da “Inviabilidade”
O argumento central do lobby é que “a decisão de descontinuar serviços online é multifacetada, nunca tomada levianamente” e deve ser uma opção quando uma experiência online não é mais “comercialmente viável”.
Vamos destrinchar essa lógica: empresas que faturam bilhões anualmente alegam que não podem arcar com o custo de manter jogos funcionais após o fim do suporte oficial. Empresas que gastam centenas de milhões em marketing dizem que preservação é cara demais.
A Microsoft, membro do lobby, gastou $68.7 bilhões comprando a Activision Blizzard. Mas criar uma versão offline de um jogo antes de matá-lo? Isso sim seria “proibitivamente caro”.
O Medo dos Servidores Privados
O lobby também argumenta que servidores privados não são viáveis porque “as proteções que colocamos para proteger dados dos jogadores, remover conteúdo ilegal e combater conteúdo comunitário inseguro não existiriam”.
É um argumento interessante vindo de empresas que rotineiramente vendem dados de jogadores para terceiros, implementam sistemas de monetização predatória e criam ambientes tóxicos que elas mesmas não conseguem moderar adequadamente.
Mais revelador ainda: eles admitem que muitos títulos são “projetados desde o início para serem apenas online”. Ou seja, são deliberadamente criados para serem descartáveis.
O Histórico Que Condena
Cada empresa representada no lobby tem um histórico extenso de matar jogos sem oferecer alternativas. Anthem da EA, cancelado permanentemente. Dezenas de títulos da Ubisoft, Warner Bros. e Microsoft, simplesmente apagados da existência.
Na maioria dos casos, jogadores que pagaram preço integral não recebem reembolsos por compras no jogo ou pelo próprio produto. O dinheiro fica com as empresas, os jogos desaparecem, e agora descobrimos que preservá-los seria “caro demais”.
A Aliança Inesperada
O lobby encontrou um aliado improvável em Pirate Software, streamer que tem criticado publicamente o movimento Stop Killing Games. A convergência entre um criador de conteúdo e interesses corporativos trilionários deveria fazer qualquer um questionar as motivações por trás dessa oposição.
Quando streamers começam a ecoar argumentos de lobbies corporativos, é hora de perguntar: quem realmente se beneficia com a morte programada de jogos?
O Que Realmente Está em Jogo
Esta não é uma discussão sobre custos de desenvolvimento. É sobre controle total do ciclo de vida dos produtos. As empresas querem o direito de matar jogos quando bem entenderem, forçando jogadores a migrar para produtos mais novos e lucrativos.
O Stop Killing Games não pede que empresas mantenham servidores eternamente. Pede que criem mecanismos para que jogos continuem funcionais após o fim do suporte oficial. É a diferença entre preservação cultural e obsolescência programada.
A Máscara Que Caiu
A resposta da Video Games Europe revelou algo que muitos já suspeitavam: para essas empresas, jogos não são arte, não são cultura, não são experiências a serem preservadas. São produtos com data de validade controlada.
O lobby deixou claro que trabalhará ativamente contra qualquer legislação que force preservação. Eles preferem um futuro onde gerações inteiras de jogos simplesmente desapareçam quando não forem mais lucrativos.
Um milhão de pessoas assinaram uma petição pedindo para salvar jogos. A resposta da indústria foi: “Não, isso custaria dinheiro”. E agora sabemos exatamente onde estão as prioridades de quem realmente controla esta indústria.