O Fim de uma Era: Microsoft Mata Romero Games e Enterra Mais de 100 Sonhos

Por Diego Barbosa
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John Romero criou DOOM. Revolucionou os FPS. Mudou a história dos videogames para sempre. Agora, aos 57 anos, viu sua empresa ser executada por uma decisão tomada “em alto nível” na Microsoft, sem aviso, sem explicação, sem dignidade. A Romero Games fechou suas portas esta semana, levando consigo mais de 100 empregos e provando, mais uma vez, que no mundo corporativo dos games, lendas não significam nada quando planilhas falam mais alto.

A Execução Sumária

A notícia chegou como um tiro na nuca. 42 funcionários diretos da Romero Games em Galway, Irlanda, mais uma rede de mais de 100 pessoas trabalhando no projeto, descobriram que estavam desempregados. O motivo? Microsoft cortou o financiamento. Simples assim.

Um funcionário anônimo descreveu como um “grande choque”, revelando que a equipe teve reuniões com a editora “no dia anterior a isso acontecer”. Sem aviso. Sem transição. Sem fundos restantes para continuar operações.

A decisão, segundo fontes internas, foi tomada “bem acima da visibilidade e controle do estúdio”. Tradução: executivos que nunca tocaram em um controle decidiram o destino de pessoas que dedicaram suas vidas a criar arte interativa.

O Desespero da Defesa

A declaração oficial da Romero Games é de partir o coração:

“Isso absolutamente não é um reflexo do trabalho da nossa equipe, performance ou qualidade do projeto em si. Atingimos cada marco no prazo, todas as vezes… Estamos com o coração partido que chegou a isso.”

Marcos cumpridos. Qualidade entregue. Cronograma respeitado. Nada disso importou quando chegou a hora de cortar custos. A Microsoft, que lucrou bilhões no último trimestre, decidiu que o projeto de John Romero não valia o investimento.

O Padrão da Destruição

Este fechamento não acontece no vácuo. É parte de uma onda devastadora de demissões que a Microsoft implementou em 2025, afetando aproximadamente 4% de sua força de trabalho – cerca de 9.000 funcionários.

A divisão King (mobile gaming) perdeu 200 pessoas – 10% da força de trabalho. Equipes não relacionadas a games também foram dizimadas. O padrão é claro: quando corporações precisam “otimizar”, são sempre os criadores que pagam o preço.

A Romero Games se junta a uma lista crescente de estúdios que foram fechados ou drasticamente reduzidos pela Microsoft nos últimos anos. Tango Gameworks, Arkane Austin, Alpha Dog Games – todos sacrificados no altar da eficiência corporativa.

A Ironia Amarga

John Romero não é qualquer desenvolvedor. É o homem que co-criou DOOM, Quake, Wolfenstein 3D. Seus jogos definiram gêneros inteiros. Sua empresa, fundada com sua esposa Brenda, lançou títulos como Empire of Sin para Switch em 2020 e as expansões SIGIL para DOOM.

Mas no mundo corporativo moderno, legado não compra proteção. Histórico não garante respeito. Contribuições para a cultura gaming não valem nada quando executivos olham apenas para números em planilhas.

O Custo Humano Ignorado

Por trás dos números frios – 42 funcionários diretos, mais de 100 na rede estendida – estão pessoas reais. Desenvolvedores que acordaram numa terça-feira empregados e dormiram desempregados. Famílias que perderam estabilidade financeira. Sonhos que foram triturados por decisões tomadas em salas de reunião distantes.

A Microsoft não ofereceu transição. Não houve aviso prévio. Não restaram fundos para operações. Foi uma execução corporativa limpa e eficiente – exatamente o tipo de “otimização” que Wall Street aplaude e que destrói vidas humanas.

A Prosperidade da Hipocrisia

Como observou o sindicato CWA (Communications Workers of America), essas demissões acontecem enquanto “a empresa está prosperando”. A Microsoft reportou lucros recordes, mas ainda assim decidiu que milhares de empregos eram “desnecessários”.

É a hipocrisia corporativa em sua forma mais pura: lucros privados, custos socializados. Acionistas celebram, executivos recebem bônus, e trabalhadores pagam a conta.

O Silêncio Ensurdecedor

Enquanto isso, a Microsoft permanece em silêncio sobre os detalhes. Sem explicações sobre por que projetos que cumpriam marcos foram cancelados. Sem justificativas sobre por que estúdios produtivos foram fechados. Apenas o silêncio corporativo que protege decisões indefensáveis.

John Romero, o homem que nos deu algumas das experiências mais intensas da história dos games, agora se junta às fileiras dos desenvolvedores veteranos descartados por corporações que valorizam mais planilhas que pessoas.

E assim, mais um pedaço da alma criativa da indústria de games morre nas mãos de executivos que nunca entenderam que por trás de cada jogo existe paixão humana, não apenas código e pixels.

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